05 julho, 2007

Diário de um agulhofóbica







Querido diário, hoje foi um dia muito marcante para mim.

Foram tantas situações horríveis nesses últimos anos... Lembra daquela vez quando eu fui tirar sangue pra fazer um exame? Que eu falei pra moça que eu tinha pavor de agulha, pra ela por favor usar a agulhinha de nenê como já tinham feito antes comigo e ela, sem rodeios enfiou aquela coisa no meu braço, uma agulha normal, quando eu comecei a chorar ela teve um incrível insight ' ah! Você tem mesmo medo de agulha!" - humpf! Docinho.....

E quando eu passei mal e fui pro pronto socorro? Que me indicaram um remédio e fui direto pra farmácia? Qual não foi a minha surpresa quando o farmacêutico exclamou 'Ah! Mas esse aqui não é comprimido... É pra tomar intravenosa!' 'O QUÊ???' Me apavorei... Mas fui adiante e tomei o remédio... Quando o enfermeiro colocou a agulha no meu braço eu fui piorando lentamente, suando frio, ficando enjoada... 'Sorvete... Sorvete...' Era no que eu pensava pra ver se a coisa melhorava...

Tantos anos de terror.... Nunca imaginei que conseguiria realizar a façanha de hoje.... Pois bem, chega de enrolações, vamos aos fatos.

Minha irmã vai passar por uma cirurgia essa semana e 'O hospital pede pra família repor duas bolsas de sangue, tem que ser hoje ou amanhã e amanhã eu não posso, então vamos hoje.' Foi isso que minha mãe me disse, logo na hora do almoço, foram essas palavras que selaram meu destino....

Comi, tentei não pensar no assunto, tomei banho, tentando não pensar no assunto, me troquei e o assunto deu de frente comigo 'Vamos, que senão não dá tempo!' - argh...

Fomos, eu, minha mãe e minha irmã mais nova. Fui tranqüila durante todo o percurso, não sei porque. Acho que tava tentando não pensar no assunto.

Centro de Hematologia de São Paulo. Chegamos lá e subimos até o primeiro andar. 'Oi, nós viemos fazer doação de sangue' 'Quantas senhas?' 'Duas.' sentamos. Eu pensei, pensei e ah, já tava lá mesmo! 'Me vê mais uma senha, qualquer coisa eu desisto na hora.' Número 52, essa era eu. Fiquei lá sentada, pensado naquela coisa pontiaguda e grossa feito uma caneta, comecei a ter calafrios, de repente, o que vejo? O quê? O Meia! O Meia e alguns amigos, todos vieram doar sangue. Eu já fui logo chorando, 'Ai não posso! Não dá!' 'Ah kzinha, é tranqüilo, a agulha nem é tão grande e nem dói nada' e ele foi me acalmando.

'Doação 52' ai, era eu. Fui lá, passei meus dados para um rapaz e por fim ele me disse '4º andar, à direita' '4º andar à direita', repeti. E fui. Cheguei lá e dei de cara com minha irmã saindo da primeira sala (são muitas salas) para a salinha de espera. 'Que que fizeram com você?' 'Ah, teste de anemia, ela só da uma espetadinha no seu dedo?' 'Que dedo' 'Esse aqui (o anelar direito)' 'Ai, não quero mais...' 'Vai Má, nem dói... Tá, dói um pouquinho, mas passa rápido.' Sentei lá pra esperar e ela já foi chamada pra sala 2. Quando vi, era minha vez.

Entrei numa saleta, uma moça estava lá, de branco, com luvas plásticas, me esperando. ‘Pode sentar ali’ ‘Tá’. Ela mal olhava pra mim, ia fazendo as coisas, pegava um pacotinho aqui, limpava com álcool ali... ‘Eu morro de medo de agulha’ Colocou um termômetro debaixo do meu braço, tirou a minha pressão no outro. ‘Mesmo’ Por fim, veio com uma agulhinha fininha pra cima do meu dedo anelar direito ‘Ah, mas isso ao vai doer nada’ e fez um furinho, na verdade não me incomodou muito, foi só uma picadinha. Ela apertou meu dedo e o sangue saiu, vermelho vivo, aos montes. Ela capturou o que deu com um tubinho bem fininho e espetou ele numa tabelinha cheia de manchinhas de sangue escuro, o meu sangue foi escorrendo e aparentemente estava tudo bem. Ela colocou um band aid, tirou o termômetro, confirmou meu nome e disse ‘Pronto, viu? Não precisa ter medo, é só ficar tranqüila, pode ir’.

Fui novamente pra saleta de espera. Dois dos amigos do Meia já estavam ali esperando pra entrar na sala onde eu estava. Fiquei um tempo ali, na tv passava um jogo de futebol qualquer, de nada me ajudava a esquecer o que já era iminente. Eu mordia minha mão, olhava pro chão, pro teto, pro corredor... ’52!’ Ai, danou-se...

Fui pra saleta 2, outra moça de branco, desta vez sem luvas, na frente de um computador confirmou meus dados e pegou um formulário. Ela foi me perguntando as mais diferentes coisas, eu respondia e ela ia rabiscando a folha. ‘Tem bronquite, asma, doenças pulmonares?’ ‘Não’ ‘Doenças venéras’ ‘Não’ ‘Tem histórico de Chagas, diabetes, câncer?’ ‘Não’ ‘Fez tratamento recente de cáries, canal, etc?’ ‘Não’ ‘Remédios, toma?’ ‘Não’ ‘Bebida alcoólica, toma?’ ‘De vez em quando’ ‘Saiu do estados nos últimos seis meses?’ Foi aí que eu quase me safei. ‘Fui pro Acre, Rio e Bahia’. ‘Hmm... Quando foi pro Acre?’ ‘Ahm... Abril’ ‘Hmm... O Acre é foco endêmico de malária, né?’ ‘É?’ ‘Hmm... Onde você ficou?’ ‘No centro e em Xapuri’ ‘Hmm... Você passou mal, sentiu alguma coisa?’ ‘Não, foi tudo bem.’ ‘Hmm... ok.’ E a bateria de perguntas continuou. Por fim ela pediu pra que eu escolhesse se eu achava que meu sangue poderia ser doado ou não (SIM/NÃO/BRANCO) votei pelo sim e segui adiante.

Finalmente entrei na sala em si. Minha mãe e irmã já estavam lá, de pernas para o alto, abrindo e fechando a mão. Na tv, o mesmo jogo de futebol – ó céus... -. ‘Pode escolher qualquer cadeira.’ Havia umas dez cadeiras distribuídas pela sala, macas, na verdade, quem falou comigo foi uma moça, havia também um rapaz, os dois de branco, com luvas. Deitei logo na primeira. Coloquei meu braço num apoio e ela veio dar uma olhada nas minhas veias. ‘Fecha bem a mão’ Ela passava o dedo pelo meu braço, naquela parte atrás do cotovelo. Olhou um, pediu o outro... Eu não via nada... ‘Não achou? Não vai dar pra fazer?’ ‘Não... Dá sim.’ – argh... Então começou a preparação. Ela passou iodo ‘Sabe. Eu morro de medo de agulha...’ passou álcool ‘Ai...’ Foi até um armário e pegou a bolsinha. Do meu lado eu via a bolsinha da minha mãe, cheia de sangue e dançando pra lá e pra cá, feliz da vida, ela ficava numa balança eletrônica, o tubinho vinha da bolsinha e ia subindo, subindo, subindo até o pulso, onde se ligava num tubo mais grossinho que estava preso com fita crepe e continuava num outro tubinho que ia subindo pelo antebraço até... OH CÉUS! A agulha era enorme! E muito grossa! Virei os olhos na hora. Ai ai ai... Sim, iam colocar uma daquela no meu braço.

‘Não precisa ter medo, o importante é relaxar’ Meus dentes travaram, meu corpo estava duro, eu tapei meus olhos com a mão o mais forte que podia. Ouvi quando ela colocou a bolsinha na minha balança e programou o peso necessário, ouvi enquanto ela mexia nos tubinhos e por um momento abri os olhos. Ela tinha ido até a bancada. Pegou uma fita crepe e cortou dois pedaços, colou no meu apoio do braço. Pegou uma fita elástica e passou pelo meu braço, bem em cima, no ‘muque’, sabe? Prendeu bem forte. Então ela prendeu uma parte dos tubinhos no meu pulso e aí sim, pegou a agulha que estava no final do tubinho, dentro de um invólucro de plástico duro. Fechei os olhos o mais que pude ‘Fica relaxada’ eu tentava ao máximo ouvir as palavras que a enfermeira me dizia, pensei em sorvete, em espacionaves, em campos de chocolate... A qualquer momento aconteceria. Meus pés travaram, duros, a ansiedade me comia viva. E então, aconteceu, uma picada forte, profunda e contínua. Meus dentes tremiam. Com o tempo, ficou só uma dor. ‘São só cinco minutos, só cinco’ eu pensava. ‘Relaxa, abre e fecha a mão devagar, isso. Agora abre os olhos.’ Aos poucos fui abrindo os olhos. Via o teto claro na minha frente. Não podia olhar pro lado. Fiquei naquela posição por muito tempo, só olhando. Olhava pro teto, pras lâmpadas, pro branco. Ficava pensando em qualquer coisa, sorvete, sapato, boné... A dor ainda estava aguda, mas com o tempo, meu braço foi adormecendo e dor foi sumindo. Fiquei lá. ‘Assim você vai ficar com um torcicolo’ virei o rosto, minha mãe e irmã ainda estavam lá. Não tive ganas de olhar para o meu braço. ‘Está coberto, pode ver’ dei só uma espiadinha, estava sem óculos, menos mal, mas vi o tubinho antes transparente, agora rubro. Meu sanguinho passando por lá...

Estava tranqüila. Consegui de certa forma relaxar. Tentei distensionar meus músculos. Pronto. Tranqüila. Funcinou, não era tão ruim. Na verdade, meu braço estava começando a doer já... Estava dormente, mal conseguia sentir minhas mãos, quanto mais abrir e fechá-la, só sabia que ela estava fria, congelando. Começou a me incomodar, e acho que conforme eu me concentrava nisso mais me incomodava ‘Calma, já vai acabar, eu agüento, eu agüento’. Fiquei uns cinco minutos nesse ‘eu agüento’. Até que, finalmente o rapaz veio em minha direção. De novo fechei os olhos. Ouvi alguns sons, mas não sabia o que ele estava fazendo. Resolvi abrir os olhos. Ele já tinha desconectado o tubo que ia até a minha bolsa de sangue, estava agora coletando meu sangue em pequenos tubinhos. Acho que foram uns seis tubos... Aí ele começou a tirar as fitas e meus olhos se fecharam automaticamente. Apertei meus olhos com minha mãe livre. Apertei meus dentes de novo. Tensão no corpo todo de novo. Ouvi uns sons, sentia algumas coisas quando de repente, tchuf, sinto ele puxar a agulha pra fora, acabou... Ele colocou uma gase dobradinha em cima e pediu pra eu pressionar ali. Fiquei mais uns três minutos assim. Mas acho que a agulha saindo foi pior do que ela entrando. Olhava pro teto, mas agora a mesma sensação da intravenosa me acometia.

Minha mão suava gelado, eu comecei a ficar tonta e tive certeza de que ia vomitar ali mesmo. Fique imaginado se muita gente já tinha vomitado ali, na frente de todo mundo, perto das bolsas de sangue dançantes... Percebi que estava entrando em pânico, lembrei da recomendação da enfermeira e respirei fundo. Senti o ar me ajudando a ficar clama. Respirei fundo mais uma vez. Estava difícil... Era mais forte que eu. ‘Está tudo bem?’ ‘Ai, to um pouco tonta’ ‘Tá, então fica aí sentadinha mais um pouco’ A enfermeira tirou gase e colocou um band aid, depois colocou uma gase sobre um ban aid e um esparadrapo sobre a gase. Depois elevou a cadeira pra minhas pernas ficar mais pro alto. Eu só respirava fundo.

Aí, o Meia entrou na sala pra fazer a doação dele. Sentou na cadeira do meu lado. ‘E aí, tudo bem kzinha?’ ‘Ai...Acho que sim’. Ele foi conversando comigo enquanto a enfermeira ‘plugava’ ele na máquina e eu fui me acalmando, melhorando. Acho que fiquei mais tempo me recuperando do que doando sangue, mas tudo bem! Por fim, levantei. Saí da sala e na saleta ao lado minha mãe e irmã já me esperavam pra tomar um lanchinho obrigatório e muito bom, por sinal! Comi meu lanche feliz e desacreditando que eu tinha conseguido fazer aquilo! Me surpreendi!

Tudo isso por causa de uma agulha... Acho que sim, hoje eu fui corajosa, mas na verdade eu fico pensando... Putz grila, como minha irmã é forte...

2 comentários:

Anônimo disse...

ai
tá doendo em mim
até fiquei enjoada por aqui... as mãos ficaram frias... rs

parabéns, amiga linda! orgulhosíssima de você! o dia que eu conseguir fazer o mesmo, te ligo na hora!

beijinho

dreka disse...

kzzz
eu leio seu blog eeeeeeeeee

ahhaha