18 agosto, 2010

absurda vida privada

Eu quero morrer! Eu quero morrer! Ela gritava, vibrando o rosto e chamando atenção dos passantes. Os dois pequenos, um com uns 9, outro duns 7, olhavam atônitos, levando sabe o quê daquilo consigo. Vocês tão loucos? Você é adulto? Quem é adulto aqui? Eram duas mulheres, de meia idade. O cabelo e as roupas contavam o tanto que haviam esquecido de si, sem dúvida um sacrifício pelos filhos. O menino mais velho era o filho, o outro, um amigo. Tinham acabado de voltar ao ponto de encontro de onde saíram sem que as duas se dessem conta. Eu nunca mais vou sair com você! Os gritos ecoavam, os dois iam diminuindo, encurralados contra a parede. Os seguranças que haviam sido acionados, se afastavam. Os passantes fingiam ignorar. As moças iam crescendo, as madeixas avermelhadas se armando, os olhos, arregalando, a voz afinando Agora você só vai sair com seu pai! um olhar descuidado veria monstros ao invés de gente Eu quero morrer!!

Numa fresta de espaço entre os gritos, a única coisa que o menino conseguiu fazer foi balbuciar em meio às lágrimas necessárias, nervosas e cheias de vergonha é que eu queria ir no banheiro...

MIJA NAS CALÇAS!!

E não há mais nada o que escrever.